Teatro
“Sou um homem com certa inteligência, algum talento, mas com uma vocação enorme para o teatro.” – Sergio Britto.
“A libido não é só sexo. È tesão pela vida. Eu tive casos amorosos que desistiram porque achavam que eu gostava mais de teatro que deles. Para mim, o orgasmo maior é representar bem. Eu preciso que o texto me faça esquecer a vida. De um tempo para cá, eu só quero peças inteligentes. Para mim, teatro é uma experiência viva. Eu preciso de novidades.” – Sergio Britto.
“O ator é um atleta. Ele tem de estar de pronto, a emoção e a vibração dele são um jogo físico também. Não é só essa coisa da emoção. Isso é muito vago e romântico. É uma questão de exercício.” – Sergio Britto.
“Não é uma questão de pretensão, eu nunca tive disso, mas é que são nos grandes textos que estão os grandes pensamentos. E eu quero ser um comunicador. Então, prefiro ser um comunicador de grandes textos do que de um puro entretenimento. Eu quero ser a pessoa que incomoda um pouco a platéia.” – Sergio Britto.
“Eu comecei a me interessar por teatro muito cedo. Aos oito anos de idade eu já ia ao teatro com a minha família. As famílias inteiras tinham o hábito de ir ao teatro. Eu me lembro que assistia a tudo, Dulcina, Jayme Costa, Procópio, assistia a teatro de revista que não era proibido a menores naquela época. O teatro de revista era sempre feito de subentendidos, de duplo sentido, a criançada não entendia bem, mas os adultos riam e a gente podia ver.” – Sergio Britto em Entrevista a Arted número 16.
Sergio Pedro Corrêa de Britto nasce em 29 de junho de 1923, em Vila Isabel, no Rio de Janeiro. Antes de seguir sua verdadeira vocação, forma-se em medicina na Faculdade da Praia Vermelha. Ser ator não passa por sua cabeça, até conhecer Jerusa Camões que o convida para o Teatro Universitário. Colega de Sérgio Cardoso, Edmundo Lopes e Sônia Oiticica, faz o personagem Benvoglio na peça Romeu e Julieta, de William Shakespeare. Em seguida, atua em Quebranto, de Coelho Netto, e em O Pai, de August Strindberg, ambas dirigidas por Esther Leão. Pelas mãos de Paschoal Carlos Magno entra para o Teatro do Estudante, em 1948, e estreia emHamlet, de Shakespeare, com Sérgio Cardoso no papel-título. É o bastante para abandonar a medicina e seguir a carreira artística.
Em 1949 funda a companhia profissional Teatro dos 12, com a qual atua em Arlequim Servidor de Dois Amos, de Carlo Goldoni, e Tragédia em New York, de Maxwell Anderson. No ano seguinte, transfere-se para São Paulo a fim de trabalhar com Madalena Nicol. Assina sua primeira direção em parceria com Carla Civelli: O Homem, a Besta e a Virtude, de Luigi Pirandello. ComMaria Della Costa faz Manequim, de Henrique Pongetti, sob a direção de Eugênio Kusnet. Seguem-se as montagens de A Prostituta Respeitosa, de Jean Paul Sartre, e Desejo, de Eugene O’Neill.
Integra o Teatro de Arena em 1953. Com o grupo, participa de Esta Noite é Nossa, de Stafford Dickens, sob a direção de José Renato, e de Uma Mulher e Três Palhaços, de Marcel Achard. No Arena, ainda dirige Judas em Sábado de Aleluia, de Martins Pena. Em 1954 inaugura o Teatro Maria Della Costa, onde representa em cinco espetáculos dirigidos por Gianni Ratto: O Canto da Cotovia, de Jean Anouilh; Com a Pulga atrás da Orelha, de Georges Feydeau; Mirandolina, de Goldoni; A Moratória, de Jorge Andrade; A Ilha dos Papagaios, de Sergio Toffano. Um ano depois, integra o Teatro Brasileiro de Comédias. Estreia em A Casa de Chá do Luar de Agosto, de John Patrik, encenada por Maurice Vaneau; em seguida, faz Um Panorama Visto da Ponte, de Arthur Miller, com direção de Alberto D´Aversa.
Pioneiro da televisão brasileira, é criador, diretor e ator do Grande Teatro Tupi, no ar por mais de dez anos. Com elenco no qual se destacam Fernanda Montenegro, Ítalo Rossi, Natália Thimberg, Manoel Carlos, Fernando Torres, Zilka Salaberry, Aldo de Maio e Cláudio Cavalcanti, o teleteatro apresenta sob o seu comando repertório de mais de 450 peças dos maiores autores nacionais e estrangeiros. Depois de seis anos na TV Tupi, o Grande Teatro transfere-se, já na era do videoteipe, para a TV Rio e depois, por seis meses, para a TV Globo – um programa formador de plateia, referência na história da televisão e do teatro brasileiros.
Em 1959, com o mesmo grupo de artistas do Grande Teatro, forma o Teatro dos Sete. A companhia estreia com O Mambembe, de Arthur Azevedo e José Piza, com direção de Gianni Ratto, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. O Beijo no Asfalto, de Nelson Rodrigues, escrita especialmente para o grupo, é uma das grandes encenações do Teatro dos Sete. Por toda a década de 60 dedica-se ao teatro e à TV, onde alcança sucesso em espetáculos como O Homem do Princípio ao Fim, de Millôr Fernandes; Mirandolina, de Goldoni; e Volta ao lar, de Harold Pinter. Em 1970 inaugura o Teatro Senac, em Copacabana, com Fim de Jogo, de Samuel Becket, e O Marido Vai à Caça, de Georges Feydeau, ambas dirigidas por Amir Haddad.
Sempre antenado com as novas tendências do teatro moderno, envolve-se em montagens arrojadas e experimentais. Depois de Tango, de Mrozek; Missa Leiga, de Chico de Assis; e A Gaivota, de Tchecov, participa de Os Autos Sacramentais, de Calderón de La Barca, ao lado do diretor vanguardista argentino Victor Garcia e da empresária Ruth Escobar. Nesta peça, que cumpre temporada internacional, em 1974, na Inglaterra, em Portugal, na Itália e no Irã, o ator aparece nu em cena, aos 51 anos, ao lado de seus colegas de elenco. Em seguida, também com Garcia e Escobar, faz a revolucionária encenação de O Balcão, de Jean Genet. Sua paixão pela ópera o leva à montagem polêmica de La Traviata e depois de O Guarani, Carmen e ILCampanello, todas sob sua direção.
Teatro dos Quatro
Funda o Teatro dos Quatro em 1978, com Paulo Mamede, Mimina Roveda e José Ribeiro Neto, no Shopping da Gávea, no Rio de Janeiro. Durante 15 anos produzem repertório irrepreensível em 17 espetáculos, entre os quais se destacam Os Veranistas, de Gorki; Papa Highirte, de Oduvaldo Vianna Filho; Os Órfãos de Jânio, de Millôr Fernandes; Rei Lear, de Shakespeare,Assim é se lhe Parece, de Luigi Pirandello; A Cerimônia do Adeus, de Mauro Rasi; e Quatro Vezes Becket. Pelo espetáculo de estreia, Os Veranistas, ele recebe os prêmios Molière e Mambembe.
Na TV Excelsior de São Paulo, dirige as novelas A Muralha e Sangue do Meu Sangue. Na Globo, atua nas novelas Anjo Mau, Super Manoela, Olhai os Lírios do Campo, Escalada e Paraíso. Na Manchete, participa de Dona Beija, Marquesa de Santos, Pantanal e Chica da Silva. Na década de 90, à frente do Teatro Delfin, realiza espetáculos em parceria com Clóvis Levi, entre os quais, Na Era do Rádio e, posteriormente, Ai, Ai, Brasil, musical sobre as raízes de nossa história. E diversificando ainda mais suas atividades, ministra cursos para jovens atores e auxilia na implantação da Casa de Artes de Laranjeiras (CAL).
Em 2003, ao completar 80 anos, protagoniza Sergio 80, peça escrita e dirigida por Domingos de Oliveira. Em 2005 encena o monólogo Jung e Eu, de Domingos de Oliveira e Giselle Kosovski, no qual vive o psiquiatra suíço, comemorando com esta peça 60 anos de carreira.
Atualmente apresenta o programa Arte com Sergio Britto, na TV Educativa do Rio de Janeiro, no qual focaliza diferentes aspectos da produção cultural – em teatro, ópera, artes plásticas, literatura, música e cinema.