Auto Sacramentales
Auto Sacramentales (1975) , Calderón de La Barca.
Elenco: Jura Otelo, José Fernandes, Seme Lutfi, Sergio Britto, Leina Krespi, Alice Gonçalves, Carlos Augusto Strazzer, Olodum, Paulo Cesar Brito, Antonio Pitanga, Walter Cruz, Vera Manhães, Gésio Amadeu, Jura Otelo, Pedro Veras e Paulo Paraná
Direção: Victor Garcia
“Victor garcía vem ao Rio me convidar para fazer parte do elenco de Auto Sacramentales, de Calderón de La Barca, que vai dirigir por encomenda do Festival de Outono de Paris e do Festival Chiraz, no Irã, entre outros eventos internacionais. Nós dois tínhamos tido uma relação muito boa nos ensaios de Balcão, em 1969. Victor ficara, como eu, frustrado por não termos realizado o espetáculo juntos. O Balcão aconteceu, mas sem mim.” Sergio Britto – Trecho do livro “O palco dos outros: caderno de viagens, 1973-1992.”
“Victor Garcia me convida para a excursão com o texto de Calderón de la Barca, Auto Sacramentales, produção de Ruth Escobar. Foi uma experiência especial em muitos sentidos.
Ele me disse que eu seria o Deus dos Autos e quando li meu texto ele só me dizia a mesma expressão mais alto, mais alto, mais rápido Sérgio. E eu comecei a perceber a ideia do Victor. Ele detestava texto de teatro, queria desse texto só o essencial, o mínimo para contar uma ação. Falando o texto nesse tom alto e com a maior rapidez possível, você acabava descobrindo no texto o que era realmente importante, enfim, o essencial que Calderón queria falar, do homem, dos seus pecados, dos seus sentimentos, das suas limitações.
Certo dia, ele pergunta ao elenco se alguém tem restrição de se apresentar nu. Dois dias depois, recebemos macacões brancos. De repente, Victor grita tirem a roupa!, e vem aquela sensação estranha. No dia 5 de agosto de 1974, viajamos para a Europa.
Chegou a hora de voltar, seis meses entre Londres, Shiraz, Paris, Atenas, Veneza, Amsterdã, Lisboa. Houve muita insegurança, momentos em que nada parecia ter sentido. Se pensarmos bem, a experiência maior foi viver o inesperado, as angústias e as soluções, isso se tornou constante em toda a minha vida, a vida de gente de teatro.
Victor, nunca mais o vimos. Soubemos um dia que ele foi encontrado morto. Histórias estranhas correram sobre esse fim inesperado. Nunca se soube de verdade como esse grande criador, essa pessoa tão especial, terminou seus dias. Saudades, Victor. Até um dia.
Voltamos intrigados: como vai ser voltar à ditadura depois dessa arejada liberdade vivida durante seis meses? Um pouco de medo, um pouco de ansiedade, mas a vontade de sempre. Estamos chegando, Brasil!” – Sergio Britto – Trecho do livro “O Teatro & Eu”.