Arlequim
Arlequim, Servidor de Dois Amos (1949) – Com direção de Ruggero Jacobbi.
Elenco: Sergio Cardoso, Jaime Barcelos, Sergio Britto, Luiz Linhares, Elísio de Albuquerque, Carlos Couto, Zilah Maria, Beyla Genauer.
Teatro Ginástico.
O texto foi escrito por Carlo Goldoni em 1745, respeitando o esquema tradicional dacommedia dell’arte e pondo em cena os personagens habituais do gênero. O primeiro ator encarregado do papel de Arlequim foi Antonio Sacchi, que tinha liberdade total de improvisação. Só quando o ator deixou de representar, e não tendo sido encontrado substituto à altura, Goldini redigiu completamente o papel do criado que se vê envolvido em uma série de trapalhadas por ter aceitado servir simultaneamente a dois patrões, no intuito de conseguir ganhar um pouco mais e, sobretudo, de garantir as refeições, que, ao longo da comédia, jamais consegue realizar. Arlequim é um personagem astuto, ágil, capaz de tiradas extremamente maliciosas e inteligentes para safar-se das confusões em que se envolve.
Ruggero assina também os cenários e os figurinos, criando uma atmosfera harmônica e cheia de vida, seguindo a idéia dominante nos pequenos teatri stabili (teatros estáveis), de aliar a qualidade de um clássico ao sabor popular. Inicialmente, o encenador encontra dificuldades junto ao elenco, para fazê-lo, incorporar um gestual tipicamente popular que lembra nos arquétipos da commedia dell’arte – “os espiritozinhos nacionais do moleque negro, do saci-pererê, do dançarino grotesco índio, do carioca carnavalesco”, como afirmará muitos anos depois”.
Sobre o trabalho de Jacobbi na direção dos atores, Sergio Britto observa: “Nós éramos um grupo de atores muito inexperientes; nós tínhamos saído de um espetáculo ou dois e estávamos fazendo Goldoni, que exigia uma elegância de gesto. Ele embutia isso na gente com muito sacrifício, lógico. Então, nós não sabíamos muito ainda, mas havia, não há dúvida de que havia, uma elegância de gestos, de atitudes, que foi ele que colocou na gente. Quando eu digo que ele era um literato e tudo, não quer dizer que ele não fazia nada de teatro; não vamos chegar a esse extremo, o que eu digo é que ele era antes de tudo aquele que explicava, dizia: ‘Esse gesto é assim’. Eu me lembro até do Ruggero fazendo certos gestos, mas quem captou todos foi o Sergio Cardoso, que era um Arlequim extraordinário”.
E sobre a atuação de Sergio Cardoso comenta: “Ensaiamos duzentas vezes a famosa cena do jantar, em que o Arlequim tem que servir aos dois patrões. Olha, o Sergio fez malabarismos! Não sei como ele conseguiu fazer aquela cena! (…) Mas o Sergio era muito bom (…) Foi um grande sucesso (…) realmente mostrava o ator que ele era!”
A produção destaca, além de Sergio Cardoso, os atores Sergio Britto, Jaime Barcelos e Elísio de Albuquerque, considerados excepcionais em suas criações.