Teatro Universitário
“Estávamos no corredor da Escola Nacional de Música, eu e meu amigo Eduardo de Oliveira. Estávamos na frente da porta do diretório acadêmico.Aí surgiu Jerusa Camões, diretora do Teatro Universitário. Ela me olhou e disse: Ô moço, você é muito bonito, quer fazer teatro conosco? Eu disse quero, sem tempo pra pensar.” Sergio Britto – Trecho do livro “O Teatro e Eu”.
Dentro do movimento de teatro estudantil e amador que, na década de 1940, renova o panorama carioca, o Teatro Universitário é um dos conjuntos cuja atividade é mais contínua.
O espetáculo de estréia, Filigranas, em 1938, é uma “fantasia musical”, nas palavras de Jerusa Camões, uma das criadoras do Teatro Universitário – TU e co-responsável pelos arranjos junto com Hugo Lacorte Vitale. A montagem inclui trechos da Cavalaria Rusticana,La Bohème e Rigoletto intercalados com esquetes, poesias e números independentes. A estrutura do programa faz jus à Escola Nacional de Música, onde nasceu o grupo. Após alguns espetáculos de êxito, o ministro Gustavo Capanema lhes cede salas na sede da União Nacional dos Estudantes – UNE, e uma dotação do orçamento para a produção de peças, o que faz com que o grupo amador passe a ter responsabilidades de companhia profissional. Para cumprir a agenda, os estudantes ensaiam à noite e nas férias.
Constam da temporada de 1943 A Viúva Alegre, opereta de Franz Lehar; As Mulheres Nervosas, de Ernest Blum e Raul Touché, com direção geral de Jerusa Camões e direção artística de Mario Brasini; Dirceu e Marília, de Afonso Arinos de Mello Franco; Irmão das Almas, de Martins Pena; Cabecinha de Vento, de Silvio Zambaldi; O Carnaval, de J. Macedo Soares. Esther Leão incumbe-se freqüentemente da direção, na qual se revezam também Mario Brasini, Adacto Filho, Fernando Pamplona e outros. No elenco figuram atores estreantes como Nathália Timberg, Jaime Barcelos, Sergio Cardoso, Sergio Britto, Paulo Fortes, Fernando Torres – que no futuro farão carreira no teatro.
São realizações do Teatro Universitário – TU: Romeu e Julieta, de William Shakespeare, 1945; Gonzaga ou A Revolução de Minas, de Castro Alves (1847 – 1871), 1947; A Dama da Madrugada, de Alejandro Casona, 1948; O Pai, de Strindberg, 1949; Quebranto, de Coelho Neto,1950, todos sob a direção de Esther Leão.
O TU realiza seus espetáculos nos locais mais diversos. Desloca-se para outras cidades para récitas beneficentes e representa em pátios, hospitais, escolas, quartéis, fábricas, onde quer que seja chamado. O projeto da companhia transcende a produção teatral: para conseguir recursos para as entidades estudantis, o grupo faz sociedade com um homem que possui brinquedos de parque de diversões, e transforma uma praça em parque, com apoio do Presidente da República, que autoriza sua instalação, por tempo indeterminado, em plena Praça do Russel, e do ministro da Guerra, que cede soldados para servirem de cerca. No parque, o TU remonta um antigo sucesso, A Viúva Alegre, de Franz Lehar, criados por eles em 1943.
Jerusa Camões, atriz do grupo, avalia, em depoimento, sua contribuição para a história do teatro: “O TU tinha como proposta definida fazer teatro, qualquer que fosse, como diversão, sem grandes revoluções cênicas. Coisas que nos alegrassem a vida. (…) No sentido de contribuir para essa alteração de mentalidades, acho que o nosso trabalho foi significativo. Por isso, costumo dizer que fomos necessários no nosso tempo. (…) Depois, o apoio ao estudante, naquele tempo, era coisa de se contar prosa. Era apoio mesmo. E confiança. Desde o governo até o crítico mais exigente estavam sempre dando apoio a nosso teatro. Nossos espetáculos faziam o maior sucesso. Nossas casas viviam superlotadas de gente. Pessoas das mais variadas posições sociais”.1
Notas 1. CAMÕES, Jerusa. O Teatro Universitário. Dionysos. Rio de Janeiro, n. 23, p. 29-30, 1978.